PROCIDADE

Depois destas notícias, já ocorreu uma série de "quatro casos" nos "quatro cantos " do país.
Entretanto, há dias era notícia (versão da SIC) que três adolescentes morrem em despiste de carro furtado após perseguição da GNR. Eram 5, entre os 13 e os 16 anos, três rapazes e duas raparigas; a GNR partiu em perseguição, tendo esta acabado num aparatoso acidente, um dos adolescentes teve morte imediata, outro a caminho do Hospital, outro já no Hospital e há mais dois feridos/as, um deles em estado grave. Ainda na mesma notícia fala a GNR fala para a SIC legitimando a perseguição, tudo decorreu dentro da legalidade.
Não houve disparos, houve apenas perseguição. Falou (e legitimou-se e justificou-se) a GNR. E não falou mais ninguém: Os adolescentes não podiam porque 3/5 estavam mortos e 2/5 estavam feridos e hospitalizados, as famílias tampouco porque de luto e a tratar dos funerais. Que a SIC tampouco cobriu. A SIC, que cobre tantos funerais avulsos, tinha aqui, até pela dimensão e expressão da tragédia, justificação para lá estar. Não esteve, não era notícia: morreram (esfarrapados) três adolescentes (que rima com delinquentes) e não se fala mais disso.
Confrontados com mais uma - ou melhor, três - mortes (apesar de desta vez não serem as execuções sumárias que têm acontecido com a GNR) - contactamos a SIC para reclamar de tão estranho e pilático (Pôncio Pilatos), responderam as relações públicas da SIC: esta estação faz um jornalismo isento, que se limita a dar a as notícias estritas, que não emite opiniões (como se um jornalista não devesse saber que em certas circunstâncias, note-se que nos fascismos e totalitarismos omitir é a melhor (ou pior?) forma de as emitir) e que que estavam em condições de assegurar que a SIC não se limitou a ouvir a GNR, também tentou ouvir os pais das crianças que - naturalmente!!! - não falaram (ou seja, além de isento, o jornalismo da SIC demonstra uma extraordinária sensibilidade ou inteligência emocional e social).
Assim responderam as relações públicas da SIC quando perguntadas se pode um jornalista (mesmo o isento) deixar de colocar lado a lado os graves crimes (quase sempre relacionados com droga) que cometem - também - soldados e graduados desta força, ou os hediondos crimes do Cabo Costa de Santa Comba, sem que os colegas os persigam levando-os a destroçarem-se contra um poste ou uma parede, ou ainda o caso dos crimes cometidos sobre as Crianças da casa Pia e cujos autores não só não foram perseguidos até uma morte bárbara por dilaceração como - para sua segurança e benefício - quando presos têm cama, mesa, mordomia, médicos e viaturas de transporte ao dispor e quando soltos gozam do pack pulseira electrónica que inclui polícia (ou segurança) privativa.
Assim responderam as relações públicas da SIC quando perguntadas as razões porque apenas se noticia que morreram num despiste após fuga à GNR três crianças e se omite que foram tragicamente conduzidas para uma morte horrível, mais uma vez, por excesso de zelo da GNR e quando ainda temos na memória o fuzilamento pelas costas de dois adolescentes (Gondomar e Setúbal) cujo gravíssimo crime era conduzir sem seguro e ou sem carta.
Assim respondeu a SIC quando perguntada se não estarão a confundir jornalista com carteiro e se tem presente que numa democracia a coercividade (ou a força), além de dever ser usada com proporcionalidade, não é um instrumento de poderes arbitrários e discricionários, apenas pode ser exercida em nome do Povo e sob o seu escrutínio e, caso não assim não seja, é notícia, assim respondeu a SIC quando perguntada se este uso da força foi proporcional e também democrático, isto é, se foi exercido em nome do Povo, se o Povo Português queria que as crianças fossem assustadas ou perseguidas até se desfazerem contra a parede. "Esta estação faz um jornalismo isento, que se limita a dar a as notícias estritas, que não emite opiniões...
Por outro lado, não podiam/deviam suscitar comentários/comentadores?...Convocam comentadores para as questões mais comezinhas ou fraldiquiras como comentar na especialidade a marca das cuecas do Cristiano Ronaldo (vejam o ridículo destas últimas semanas em que o Sic-ário Nuno Luz – que raio, onde foram buscar um tipo com tão pouco amor próprio – e mais um lote de comentadores seguem atrás do rabo dos jogadores e da selecção para todo o lado, até para a casa de banho, dando-lhe uma importância superior à que tiveram os heróicos astronautas da década de 60. Afinal, o que é que é importante, o que é que é notícia?...
- Os cinco adolescentes não fugiram, porque só um conduz!... Os três adolescentes mortos, o ferido grave e o outro ferido não se despistaram, porque só um conduz. Dificilmente foram os cinco (a) furtar o automóvel. Mas morreram três, dois estão feridos e um deles em estado grave. Despistaram-se e bateram contra um poste. E se fosse contra outra viatura com outros cinco ocupantes e os mortos dobrassem em número, já seria diferente a notícia?...
- Responda o Nuno Luz: o Despiste foi contra a viatura da selecção, a qual apenas sofreu uns danos frontais e rebentamento de um pneu. Já Era notícia, verdade ou não?... e com foros de última hora apesar dos danos inócuos do autocarro da selecção.
Então, e com este tempero, afinal o Cristiano Ronaldo ia de pé no autocarro e bateu com a sua dura cabeça em qualquer coisa, sofreu umas contusões e vai ficar impedido de integrar a equipa nos jogos do Euro 2012. Já Era notícia, verdade ou não?... E como afinal a perseguição da GNR tinha tido tão nefastas consequências (para a selecção e o Euro) ouviríamos na SIC toda a sorte de comentadores, juristas a discutir a legitimidade e legalidade destas perseguições. Quem sabe, sairia uma Lei no espaço de uma semana!...
A GNR saberia que eram adolescentes. Todos sabemos o tipo de catástrofes a que pode conduzir o pânico de adolescentes assim flagrados. A GNR sabe melhor que todos nós, sabe-o científica, técnica e estatisticamente. Não há, pelos vistos, nada a censurar à GNR, mas um par de coisas temos por certas,
A - Estes adolescentes não são filhos e filhas (ou netos e netas) do Sr Balsemão, não são filhos e filhas de poderosos, de políticos, de magistrados ou de altas patentes da GNR. De contrário, o mesmo jornalista isento já nos tinha notícia da suspensão dos agentes envolvidos e de processos disciplinares em curso.
B - No que toca a este jornalismo isento nosso coetâneo (jornalismo classe-média), é tempo de recordar assim chegam (ou regressam) os totalitarismos e a repressão: abusando da força ou pouco mais a cada dia com a isenção cúmplice e corporativa de jornalistas e por isso talvez seja altura de lembrar também a parábola que diz que “um dia prenderam os homens da outra cidade, mas não me envolvi, afinal nem sequer o conhecia; um dia prenderam os homens da rua em frente, mas tampouco eram da minha família. Por fim prenderam-me a mim, ninguém, me valeu, ninguém me ajudou. Não percebi"
A - No que toca à GNR, estas perseguições são cobardes e culminam em execuções sumárias num país que se gaba de ter sido o primeiro…a abolir a pena de morte. Mas esta é a GNR que conhecemos desde sempre: chamada de republicana mesmo nos tempos do corporativismo, é proactiva e voluntariosa contra o Povo, persegue e maltrata os fracos, foi sempre BASTIÃO DO PODER e sempre esteve contra a Liberdade e a Democracia. Tem a sua história manchada por estas execuções sumárias durante todo o Estado Novo (lembre-se Catarina Eufémia e esta não foi, ao tempo, caso único) mas também já em democracia (o pobre operário de Barqueiros - a guerra dos caulinos - que foi assassinado quando a GNR disparou…para o ar).
Aliás, a recolha de Marcelo Caetano na GNR do Carmo a 25 de Abril de 1974 não foi casual, foi a condecoração e a consagração desta força militar repressiva (ou força militar de repressão de proximidade) que há muito não é compaginável com um estado subordinado aos princípios Democrático e de Estado de Direito.
Aliás, a recolha de Marcelo Caetano na GNR do Carmo a 25 de Abril de 1974 não foi casual, foi a condecoração e a consagração desta força militar repressiva (ou força militar de repressão de proximidade) que há muito não é compaginável com um estado subordinado aos princípios Democrático e de Estado de Direito.
- Temos um exército com uma oprganização e logística (na circunstância, de herança inglesa) que fazem dele, historicamente, um excelente exército.
- Temos uma das melhores, mais incansáveis e competentes polícias de investigação criminal da Europa, senão do mundo civilizado, a PJ;
- Temos uma Polícia para a Segurança Pública de valor inquestionável.
A GNR tem valorosíssimos e irrepreensíveis soldados. Mas é uma forma militar/para-militar e por isso anacrónica quanto à missão e seus fins. Extinga-se esta corporação que se mantém como uma extensão extemporânea do salazarismo[1] e peça-se desculpa ao Povo Português por se ter demorado 40 anos a fazê-lo. Integrem-se os seus soldados, sem perda de direitos ou patente/graduação, ou como Agentes na PSP - e em graduações correspondentes - ou como soldados no Exército - e permitindo que sejam os próprios a escolher!
Mas para policiamento, a) reestruture-se a PSP, reforme-se a sua mentalidade e cultura policial[2], b) estenda-se esta Polícia a todo o território e para a Urbe como para fora dela, c) distingam-se bem as polícias de proximidade e as de intervenção, d) crie-se uma polícia de matriz civil, vestida igualmente de azul e aliviada tanto das ridículas e arcaicas botas de montar com esporas como dos collants napoleónicos, e, de caminho, e) acabe-se com a sobreposição à PSP das polícias de âmbito privado, as Municipais.
Mas para policiamento, a) reestruture-se a PSP, reforme-se a sua mentalidade e cultura policial[2], b) estenda-se esta Polícia a todo o território e para a Urbe como para fora dela, c) distingam-se bem as polícias de proximidade e as de intervenção, d) crie-se uma polícia de matriz civil, vestida igualmente de azul e aliviada tanto das ridículas e arcaicas botas de montar com esporas como dos collants napoleónicos, e, de caminho, e) acabe-se com a sobreposição à PSP das polícias de âmbito privado, as Municipais.
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[1] Como dizia um cronista do DM há um par de anos, "mas que guerra é essa que é declarada tanto às povoações como aos automobilistas que justifica o envolvimento e a manutenção de uma força militar ou para-militar?”
[2] Esta não pode ser toda a - e muito menos a única - imagem ou percepção que a PSP tem de si própria:
http://vidadopolicia.blogspot.pt:
o Ardina
[1] Como dizia um cronista do DM há um par de anos, "mas que guerra é essa que é declarada tanto às povoações como aos automobilistas que justifica o envolvimento e a manutenção de uma força militar ou para-militar?”
[2] Esta não pode ser toda a - e muito menos a única - imagem ou percepção que a PSP tem de si própria:
http://vidadopolicia.blogspot.pt:
o Ardina
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