Antes a vida privilegiada dos Operadores de "Call Center", será?..
PROCIDADE
IRRA!...que o que é demais, já é mais que erro:
Na minha opinião - e reclamando o direito a tê-la - aos professores falta capacidade de autocrítica: Não se chegou a este estadio "sem" os professores ou "contra" os professores, Os professores "também" são sociedade e comunidade e nessa medida têm muitas responsabilidades nesta (in)evolução da educação como facto social. E não me refiro a aspectos mínimos ou comezinhos como, por exemplo, professores da Escola Pública que colocam os seus filhos em escolas / colégios privados nas grandes cidades (espírito de "casta") ou ainda o sem número de professores que a partir dos cinquenta e picos anos passa a estar de atestado "permanente" (ainda que estes aspectos "comezinhos" sejam igualmente importantes, são muitos/as que assim procedem, a comunidade conhece-os/as e isso (também) os/as desacredita como grupo sócio-profissional e enquanto classe de funcionários públicos.
Refiro-me à demissão dos professores da participação como um dos principais agentes na mudança/reforma das políticas educativas, na formação contínua dos professores, na ligação à comunidade, etc. e "isto" continuará a involuir, enquanto se mantém este diálogo de surdos (logo, esta série de monólogos") como o é esta notícia de hoje:
- "tomamos conta dos filhos deles por 18 anos e não nos valorizam". Que falácia!
Depois do jardim de infância e da Pré-Escolar, passando ainda um pouco pela Primária/Ensino Básico, os professores "tomam" realmente conta dos filhos de alguém?... Ah, sim, claro, os professores "tomam" conta" todos em geral, mas nenhum em particular: entrar numa sala de aulas, dar uma aula "magister dixit" e sair ao cabo de 50 minutos para o local "vedado" aos alunos que são as "salas dos professores" não é "tomar conta" dos filhos de ninguém, não é sequer, formar com os alunos uma "comunidade letiva", quanto mais "tomar conta" deles . Em 50 anos, passamos de uma dimensão comunitária, "local", em que todos se conheciam dentro e fora da escola e os pais tinham tempo diário para os filhos, para esta dimensão agigantada e despersonalizada e onde abundam as "bolsas de vazio" de toda a ordem. E o que mudou nos métodos letivos?...
Na Escola Pública, nada: o professor mercenário vai dar a sua hora de 50 minutos por conta das (até) 22 que tem que "dar" por semana. Entretanto, "de quem são" os alunos que a cada ciclo de 60 minutos são passados "de mão em mão", quem "toma conta" deles, de facto?...
Uma Educadora de Infância ou uma Técnica de Educação da Pré-Escolar podem dizer "tomamos conta deles e não nos valorizam" porque é rigorosamente verdade.
Um/a professor/a do Ensino Básico ainda pode dizer que "toma conta", embora seja - infelizmente - cada vez menos verdade porque de facto já trabalha por "blocos letivos" de duas horas e no "recreio", quem "toma conta" é a Auxiliar (a "empregada").
Mas nos 2º, 3º ciclos e secundário, são os alunos que tomam conta uns dos outros, para o bem e para o mal e para o melhor e para o prior (aliás, estas 'bolsas de vazio' são também o espaço do buliyng).
E é aqui que os/as escolas/colégios privados fazem a diferença (e eu sou e gostaria de continuar a ser defensor da Escola Pública): apesar de se manter o modelo letivo INADEQUADO "monodisciplinar por fraçoes" de 50 minutos, ALGUÉM COM ROSTO "está com" os alunos e humaniza e pessoaliza a escola, identifica-os com, cria para os alunos um "grupo de pertença".
Em 1971 foi publicado em Portugal o livro de Evan Hunter "Sementes de Violência" que relatando factos sociais na educação de cidades em vias de massificação escolar, alertavam para os perigos desse fenómeno os/as educadores de países em desenvolvimento, como o nosso (a Escola de Massas, em bom rigor, está entre nós desde o 25 de Abril de 1974). E ao cabo de 40 anos em que - também cá - se assistiu à massificação escolar e à secularização dos fenómenos de que agora se queixam os professores, pergunto: Quantos/as professores/as e responsáveis pelas políticas educativas leram - por exemplo - este livro, ou "como um romance" de Pennac, ou outros que não estão nas "leituras curriculares"?...
A Surpresa para mim é que mesmo professores do quadro disciplinar das "Humanidades" (as antigas "letras") são parcos em leituras, ficam-se pelo "manual escolar".
Para poderem dizer que "tomam conta deles " (pelo menos) 15 anos, reivindicam um modelo de ensino diferente, mais grupal e por seminários, pelo menos até aos e 3ª Ciclos. "Vivam" na escola e com a turma, como acontece na Jardim e Infância, na pré-escolar e ainda no 1º Ciclo. Esse modelo do professor "monodisciplinar" por blocos. de professor "visitante" que ministra a aula na sala X, será aceitável a partir do 3º ciclo e na Universidade.
É incompreensível - e, porventura, intolerável - que década a década as coisas piorem e a única coisa que aumenta são as reclamações opostas de pais vs professores.
Concluindo, se os professores usassem o seu poder reivindicativo - que é incomensurável quando comparado com o de outras classes/grupos sócio-profissionais [1] - para MUDAR MAIS O/NO ensino, todos, incluindo os professores, teríamos muitas menos "razões de queixa"...
[1] - poder reivindicativo, privilégios de casta e de "grupo especial à parte":
- se um/a recém-licenciado/a conclui uma licenciatura da "via de ensino", passa a ser "um professor no desemprego";
- mas o recém-licenciado em fiscalidade, contabilidade ou gestão; engenharia ou biologia, é apenas um desempregado licenciado;
- são frequentes e recorrentes as notícias sobre o cansaço, a desilusão e não sei o que mais dos/as professores/as;
- há muitos grupos sócio-profissionais onde esses níveis de exaustão e desilusão são incomparavelmente maiores, trabalham num padrão de 50 horas semanais, têm um regime de férias que equivale ao regime dos feriados dos professores - ah! e as férias dos professores?... quem não queria o regime de férias dos professores da escola pública? - mas aguentam, porque não são "classe" e não têm poder reivindicativo; e porque não são "classe", ninguém fala deles;
- é elevadíssimo o número de profissionais da PSP e GNR - cuja remuneração é de cerca de um terço das dos professores - que se suicidam nos quartéis e nas camaratas, por não aguentarem mais;
- e proporcionalmente, é maior o número de professores que recorre ás baixas plurianuais, mantendo o vencimento e apenas deixando de receber o subsídio de alimentação... por não aguentarem mais;
e são apenas dois dos muitos "mosaicos" possíveis sobre a igualdade e a "coesão social"..
ENTREVISTA
“Confiamos-lhes os nossos filhos durante 18 anos”, mas não os valorizamos
Três perguntas a Joaquim Azevedo, coordenador do inquérito As preocupações e as motivações dos professores.
Escreve em As preocupações e as motivações dos professores, o seguinte: “É como se um pessimismo endémico tivesse tomado conta da educação escolar.” Pessimismo (e também insatisfação) que é maior entre os inquiridos no ensino público do que entre os do privado. Como explica isto?
As diferenças podem explicar-se por vários motivos: no sector privado há, tendencialmente, mais estabilidade das equipas docentes, uma vinculação diferente ao projecto da escola..."
As diferenças podem explicar-se por vários motivos: no sector privado há, tendencialmente, mais estabilidade das equipas docentes, uma vinculação diferente ao projecto da escola..."
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