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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Inteligência, para que te quero

Inteligência, para que te quero
PROCIDADE

Eu sei que é difícil definir inteligência, tanto mais que a inteligência são as capacidades do cérebro "racional" cruzadas com o nosso carácter e temperamento, ou aquilo a que Hobbes chamava "as paixões" (e por isso se refere tantas vezes o quociente emocional de/da inteligência). São vários "tipos" de inteligência, que exercemos em subordinação a motiles que muitas vezes nem conhecemos/percebemos ou nem fazemos questão de conhecer e ou perceber.

O Juiz Carlos Alexandre é um homem Inteligente. De uma inteligência paciente, persistente, metódica e programada. A profissão que tem "educou" essa inteligência para o calculismo, isto é, antecipação de cenários, programação dos actos e diligências, uma visão prospectiva levada depois à ação através de medidas pensadas, ponderadas. Não é um homem lido, não é um homem culto e muito menos é um pensador, um ensaista, um intelectual [1]. Mas é, inquestionavelmente um homem inteligente. De resto, se o não fosse, não estaria a desempenhar as funções que desempenha. Por outro lado, conhece bem as Leis. Então, o que leva um homem inteligente a tornar pública uma estupidez?...

Sobre o dever de reserva, diz (e isto não é tudo o que diz) o Estatuto dos Magistrados que "...o dever de reserva abrange, na sua essência, as declarações ou comentários (positivos ou negativos) feitos por todos os juízes, envolvendo apreciações valorativas sobre processos que têm a seu cargo...". 
Não há escamoteamento possível, há nas declarações do Magistrado comentários que incluem uma  valoração negativa  - apreciação valorativa - sobre um comportamento de um cidadão arguido num processo que o Magistrado tem na sua mão e sob a sua gestão. Mais e pior, esse comportamento que, subsumido à lei em sentido particular e concreto constituiria um ilícito penal, por agora está meramente indiciado, isto é, o arguido é dele suspeito, mas nem sequer ainda acusado, quando mais condenado e com sentença transitada em julgado.

Quem viu a entrevista pode constatar que o Juiz não é tolo; terá outros pecadilhos (ou vicissitudes, para usar uma palavra que ele tanto usa e com uma extraordinária polivalência/polissemia), mas não é tolo. Sabe que não está meramente a configurar representações gerais e em abstracto que de alguma forma passaram para o senso comum ou o consciente colectivo. Então, o que leva este homem inteligente a - quase deliberar - tornar pública esta estupidez?...

Eu tenho a minha teoria explicativa - que vale o que vale - e que "se divide em duas ordens de razões" (para usar mais uma expressão do Magistrado):

A primeira, Carlos Alexandre está cansado do Ticão. É altura de sair dali, de passar a pasta mas, e como ele como o próprio confessou, não tem condições para ascender na carreira de Magistrado. É que em vez de ler, de estudar, de se cultivar e crescer como magistrado e para a magistratura - e poder almejar as instâncias seguintes na hierarquia - optou por tomar para si e como mote a alegoria de Chaplin no filme "Tempos Modernos" (ou para os que não conhecerem esta alegoria, levou demasiado à letra a "bondade" da atitude da formiga na fábula de La Fontaine): fez mais, e muito, e durante muito tempo, a mesma coisa, para ganhar horas extras e fazer face aos "créditos hipotecários" e outras despesas da vida que, como cidadão livre que é, escolheu para si. Mas agora está atrasado para subir, como ele próprio reconhece, tem muitos à sua frente. Para sair do Ticão terá que ir para outro Tribunal e fazer o que ele próprio chamou de Clínica Geral.;

A segunda, é que tudo indica e em crescendo que a plural Magistratura que tanto se engalfinhou em Sócrates, alardeando e mediatizando o caso para lá do minimamente tolerável, que antegozou uma despropositada e pouco republicana jactância, parece estar condenada a uma saída de sendeiro. A cada passo prometem uma acusação apocalíptica e tudo que se vê a seguir é o alargamento da operação Marquês ao Saldanha, às Avenidas Novas, ao Campo Grande,  a Sete Rios, à Margem Sul mas parir, parir... nem um rato E nestas circunstâncias, que jeito que daria um daqueles castigos que normalmente são aplicados aos Magistrados, uma promoção par ao lado, isto é, ser transferido: Eu não concluí porque não me deixaram, mudaram-me de sítio" e quem vier a seguir, que feche a porta e o inquérito!

Vamos ver é se o CSdaM "morde o isco"...

[1] “Sou um grande cultor da lei moral de Kant: age de uma forma tal que queres que outros ajam em relação a ti da mesma maneira”.
Ora a Lei de Kant, nem é "moral", nem é esta. Esta é uma Lei moral dos Fariseus e que o próprio Jesus Cristo tornou sua ao longo do seu processo de cisão com o Judaísmo. A Lei de Kant é "Ética", chama-se "Imperativo categórico", vai muito além da "relação com o outro" e tem a seguinte formulação:
- Age de forma tal que a máxima da tua acção possa ser/seja Lei Universal...
De resto, a menos que se trate de Direito Canónico, choca-me que se invoque a Moral ou se chame a Moral a coadjuvar as discussões e ou juízos de Direito, mas isso é matéria do que chamo Sincresia Normativa Oculta e que não vou discutir aqui.
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Outras publicações:





Francisco Louçã

12 de Setembro de 2016, 08:22

Por


Ainda bem que o juiz Carlos Alexandre deu a entrevista que não devia ter dado: http://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2016/09/12/ainda-bem-que-o-juiz-carlos-alexandre-deu-a-entrevista-que-nao-devia-ter-dado/

4 DE SETEMBRO DE 201600:00; 
Paulo Baldaia 






Um juiz baralhado: http://expresso.sapo.pt/blogues/opiniao_daniel_oliveira_antes_pelo_contrario/2016-09-12-Um-juiz-baralhado


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Antes a vida privilegiada dos Operadores de "Call Center", será?...

Antes a vida privilegiada dos Operadores de "Call Center", será?..
PROCIDADE

IRRA!...que o que é demais, já é mais que erro:

Na minha opinião - e reclamando o direito a tê-la - aos professores falta capacidade de autocrítica: Não se chegou a este estadio "sem" os professores ou "contra" os professores, Os professores "também" são sociedade e comunidade e nessa medida têm muitas responsabilidades nesta (in)evolução da educação como facto social. E não me refiro a aspectos mínimos ou comezinhos como, por exemplo, professores da Escola Pública que colocam os seus filhos em escolas / colégios privados nas grandes cidades (espírito de "casta") ou ainda o sem número de professores que a partir dos cinquenta e picos anos passa a estar de atestado "permanente" (ainda que estes aspectos "comezinhos" sejam igualmente importantes, são muitos/as que assim procedem, a comunidade conhece-os/as e isso (também) os/as desacredita como grupo sócio-profissional e enquanto classe de funcionários públicos.
Refiro-me à demissão dos professores da participação como um dos principais agentes na mudança/reforma das políticas educativas, na formação contínua dos professores, na ligação à comunidade, etc. e "isto" continuará a involuir, enquanto se mantém este diálogo de surdos (logo, esta série de monólogos") como o é esta notícia de hoje: 
- "tomamos conta dos filhos deles por 18 anos e não nos valorizam". Que falácia! 
Depois do jardim de infância e da Pré-Escolar, passando ainda um pouco pela Primária/Ensino Básico, os professores "tomam" realmente conta dos filhos de alguém?... Ah, sim, claro, os professores "tomam" conta" todos em geral, mas nenhum em particular: entrar numa sala de aulas, dar uma aula "magister dixit" e sair ao cabo de 50 minutos para o local "vedado" aos alunos que são as "salas dos professores" não é "tomar conta" dos filhos de ninguém, não é sequer, formar com os alunos uma "comunidade letiva", quanto mais "tomar conta" deles . Em 50 anos, passamos de uma dimensão comunitária, "local", em que todos se conheciam dentro e fora da escola e os pais tinham tempo diário para os filhos, para esta dimensão agigantada e despersonalizada e onde abundam as "bolsas de vazio" de toda a ordem. E o que mudou nos métodos letivos?...
Na Escola Pública, nada: o professor mercenário vai dar a sua hora de 50 minutos por conta das (até) 22 que tem que "dar" por semana. Entretanto, "de quem são" os alunos que a cada ciclo de 60 minutos são passados "de mão em mão", quem "toma conta" deles, de facto?...
Uma Educadora de Infância ou uma Técnica de Educação da Pré-Escolar podem dizer "tomamos conta deles e não nos valorizam" porque é rigorosamente verdade. 
Um/a professor/a do Ensino Básico ainda pode dizer que "toma conta", embora seja - infelizmente - cada vez menos verdade porque de facto já trabalha por "blocos letivos" de duas horas e no "recreio", quem "toma conta" é a Auxiliar (a "empregada").
Mas nos 2º, 3º ciclos e secundário, são os alunos que tomam conta uns dos outros, para o bem e para o mal e para o melhor e para o prior (aliás, estas 'bolsas de vazio' são também o espaço do buliyng). 
E é aqui que os/as escolas/colégios privados fazem a diferença (e eu sou e gostaria de continuar a ser defensor da Escola Pública): apesar de se manter o modelo letivo INADEQUADO "monodisciplinar por fraçoes" de 50 minutos, ALGUÉM COM ROSTO "está com" os alunos e humaniza e pessoaliza a escola, identifica-os com, cria para os alunos um "grupo de pertença".
Em 1971 foi publicado em Portugal o livro de Evan Hunter "Sementes de Violência" que relatando factos sociais na educação de cidades em vias de massificação escolar, alertavam para os perigos desse fenómeno os/as educadores de países em desenvolvimento, como o nosso (a Escola de Massas, em bom rigor, está entre nós desde o 25 de Abril de 1974). E ao cabo de 40 anos em que - também cá - se assistiu à massificação escolar e à secularização dos fenómenos de que agora se queixam os professores, pergunto: Quantos/as professores/as e responsáveis pelas políticas educativas leram - por exemplo - este livro, ou "como um romance" de Pennac, ou outros que não estão nas "leituras curriculares"?...
A Surpresa para mim é que mesmo professores do quadro disciplinar das "Humanidades" (as antigas "letras") são parcos em leituras, ficam-se pelo "manual escolar".
Para poderem dizer que "tomam conta deles " (pelo menos) 15 anos, reivindicam um modelo de ensino diferente, mais grupal e por seminários, pelo menos até aos e 3ª Ciclos. "Vivam" na escola e com a turma, como acontece na Jardim e Infância, na pré-escolar e ainda no 1º Ciclo. Esse modelo do professor "monodisciplinar" por blocos. de professor "visitante" que ministra a aula na sala X, será aceitável a partir do 3º ciclo e na Universidade.
É incompreensível - e, porventura, intolerável - que década a década as coisas piorem e a única coisa que aumenta são as reclamações opostas de pais vs professores.
Concluindo, se os professores usassem o seu poder reivindicativo - que é incomensurável quando comparado com o de outras classes/grupos sócio-profissionais [1] - para MUDAR MAIS O/NO ensino, todos, incluindo os professores, teríamos muitas menos "razões de queixa"...

[1] - poder reivindicativo, privilégios de casta e de "grupo especial à parte":
- se um/a recém-licenciado/a conclui uma licenciatura da "via de ensino", passa a ser "um professor no desemprego";

- mas o recém-licenciado em fiscalidade, contabilidade ou gestão; engenharia ou biologia, é apenas um desempregado licenciado;
- são frequentes e recorrentes as notícias sobre o cansaço, a desilusão e não sei o que mais dos/as professores/as;
- há muitos grupos sócio-profissionais onde esses níveis de exaustão e desilusão são incomparavelmente maiores, trabalham num padrão de 50 horas semanais, têm um regime de férias que equivale ao regime dos feriados dos professores - ah! e as férias dos professores?... quem não queria o regime de férias dos professores da escola pública? - mas aguentam, porque não são "classe" e não têm poder reivindicativo; e porque não são "classe", ninguém fala deles;

- é elevadíssimo o número de profissionais da PSP e GNR  - cuja remuneração é de cerca de um terço das dos professores - que se suicidam nos quartéis e nas camaratas, por não aguentarem mais;

- e proporcionalmente, é maior o número de professores que recorre ás baixas plurianuais, mantendo o vencimento e apenas deixando de receber o subsídio de alimentação... por não aguentarem mais;

e são apenas dois dos muitos "mosaicos" possíveis sobre a igualdade e a "coesão social"..


ENTREVISTA




“Confiamos-lhes os nossos filhos durante 18 anos”, mas não os valorizamos

Três perguntas a Joaquim Azevedo, coordenador do inquérito As preocupações e as motivações dos professores.
Joaquim Azevedo gostava de saber "porque é que a sociedade portuguesa e os seus dirigentes políticos não valorizam os professores" RENATO CRUZ SANTOS


Escreve em As preocupações e as motivações dos professores, o seguinte: “É como se um pessimismo endémico tivesse tomado conta da educação escolar.” Pessimismo (e também insatisfação) que é maior entre os inquiridos no ensino público do que entre os do privado. Como explica isto?
As diferenças podem explicar-se por vários motivos: no sector privado há, tendencialmente, mais estabilidade das equipas docentes, uma vinculação diferente ao projecto da escola..."

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Neoliberalismo = Fascismo

colhido em/copiado de

http://ruportugal.blogspot.pt/2016/04/o-neoliberalismo-e-um-fascismo_12.html

Um Blog a visitar!
12/04/2016

"O Neoliberalismo é um Fascismo

Este é um excelente texto escrito por Manuela Cadelli, Presidente da Associação Sindical dos Magistrados Belgas, publicado no site belga Le Soir. Apesar de conter algumas referências à Bélgica (poucas), julgamo-lo como sendo perfeitamente universal, e um retrato de muito que se passa um pouco por todo o mundo. Esta versão em português é uma tradução do RiseUp Portugal.

O Neoliberalismo é um fascismo
O liberalismo foi uma doutrina produzida da filosofia das Luzes, tanto politica como económica, que tinha como objectivo impor ao Estado a distância necessária para o respeito das liberdades e o começo das emancipações sociais. Ele foi o motor do nascimento e da ascensão das democracias ocidentais. O neoliberalismo é essa economia total que ataca cada esfera das nossas sociedades a qualquer instante da nossa época. É um extremismo.

O fascismo define-se como a sujeição de todos os elementos que compõem um Estado a uma ideologia totalitária e niilista.

Eu afirmo, que o neoliberalismo é um fascismo porque a economia sujeitou os governos dos países democráticos, como também cada um dos fragmentos do nosso pensamento. 

O Estado, está agora ao serviço da economia e da finança, que o tratam como um subordinado, explorando-o até ao ponto de por em risco a preservação do bem comum.

A austeridade tão desejada nos meios financeiros transformou-se num valor superior que substituiu a política. Sucede que "fazer poupanças" tornou-se uma maneira de evitar qualquer outro objectivo público. O principio da ortodoxia orçamental é de tal ordem, que quer mesmo que seja inscrito na Constituição dos Estados. A noção de serviço público é ridicularizada. O niilismo que agora decorre permitiu mesmo anular o universalismo e os valores humanos mais importantes: solidariedade, fraternidade, integração e o respeito de todos pelas diferenças. Até mesmo a economia clássica tem dificuldades em se realizar. O trabalho era antes um factor de procura e por isso os trabalhadores eram respeitados; a finança internacional fez do trabalho uma variável simples de ajustamento.

Deformação do real

Todo o totalitarismo é primeiro uma desvirtuação da linguagem e assim, como no romance de Georges Orwel, o neoliberalismo tem a sua novilingua e os seus elementos de comunicação permitem deformar o real. Assim, qualquer corte orçamental releva actualmente da modernização dos factores atingidos. Os mais desmunidos deixam de poder pagar cuidados de saúde e renunciam ir ao dentista? Esta é a modernização da Segurança Social. A abstracção domina o discurso público para evitar as implicações sobre o ser humano. Assim, tratando-se de refugiados, torna-se imperativo que o seu acolhimento não crie novas despesas que as nossas finanças não possam assumir. Como acontece com certas pessoas classificadas de "assistidas" porque dependem da solidariedade Segurança Social.

Culto da avaliação

O darwismo social domina e obriga todos e cada um às mais severas prescrições em matéria de performance: enfraquecer é falhar. Os nossos fundamentos culturais são subvertidos: todo o postulado humanista é desclassificado ou desmonetarizado porque o neoliberalismo tem o monopólio da racionalidade e do realismo. Margareth Thatcher indicou-o em 1985: "Não há alternativa". Tudo o resto é mera utopia, irracionalidade e regressão. As virtudes do debate e da conflitualidade são por isso desacreditadas, uma vez que a História é regida por um imperativo denecessidade.

Esta sub-cultura oculta uma ameaça existencial que lhe é própria. A ausência de performance condena ao desaparecimento, e ao mesmo tempo cada um é acusado de ineficácia e constrangido a justificar-se por tudo. A confiança foi quebrada. A avaliação reina, e com ela a burocracia que impõe a definição e a procura do excesso de objectivos e de indicadores, aos quais nos devemos conformar. A criatividade e o espírito crítico são oprimidos pela gestão. E cabe a cada um a mea-culpa pelos desperdícios e inercias de que é culpado.

A justiça negligenciada

A ideologia neoliberal produz uma normatividade que faz concorrência às leis do parlamento. Desta maneira o poder democrático do direito fica comprometido. Para evitar a concretização que representa as liberdades e os direitos adquiridos, evitando pela mesma ocasião os abusos que impõem, o direito e o procedimento jurisdicional são a partir da agora encarados como obstáculos. Assim como o poder judiciário, que susceptível de contrariar as linhas deste pensamento deve ser dominado. 

Até a justiça belga é sub-financiada; em 2015 ela era a última de um ranking europeu que incluía todos os estados situados entre o Atlântico e os montes Urais. Em dois anos, o governo conseguiu tirar-lhe a independência que a Constituição lhe tinha conferido no interesse do cidadão, para ele poder ter o papel de contra-poder. O projecto é forçosamente este: que deixe de haver justiça na Bélgica.

Uma casta acima de outros

No entanto, a classe dominante não se auto administra a mesma dose que prescreve aos outros cidadãos comuns, porque a austeridade bem gerida começa pelos outros. O economista Thomas Piketty descreveu-o perfeitamente no seu estudo sobre as desigualdades e o capitalismo no século XXI. Apesar da crise de 2008 e as evocações éticas que se seguiram, nada se passou para civilizar os meios financeiros e os submeter às exigências do bem comum. Quem pagou? As pessoas comuns, vocês e eu. E enquanto o Estado belga consentiu em 10 anos prendas fiscais de 7 mil milhões às multinacionais, o cidadão comum viu ser-lhe negado o acesso à justiça, através duma sobretaxa (aumento dos custos de tribunal, e aumento de 21% dos honorários do advogado). A partir de agora, para obter uma indemnização, as vítimas de injustiça têm que ser ricos. Isto num país onde o número de cargos públicos desafiam todos os standards mundiais. 

Neste sector particular, não existe avaliação nem estudos relativos aos custos de privilégios. Um exemplo: trinta anos depois do federalismo, a instituição provinciana sobrevive sem que ninguém possa dizer para que serve. A racionalização e a ideologia gestora ficaram paradas à porta do mundo politico.

O ideal da segurança

O terrorismo, outro niilismo que revela as nossas fraquezas e a nossa cobardia na afirmação dos nossos valores, é susceptível de agravar o processo, permitindo em breve justificar todos os ataques às liberdades, à contestação, comjuizes classificados de ineficazes, diminuindo ainda mais a protecção social dos mais desmunidos, sacrificada a este "ideal" de segurança.

A salvação por aliança

Este contexto ameaça, sem alguma duvida, os fundadores das nossas democracias, mas por isso mesmo condena ao desespero e desencorajamento? Certamente que não. Há 500 anos, no auge das derrotas que fizeram cair a maior parte dos estados italianos, impondo-lhes uma ocupação estrangeira de mais de três séculos, Nicolas Maquievel exortava os homens virtuosos a enfrentar o destino e, face à adversidade dos tempos, preferir a acção e a audácia do que a prudência. Por mais que a situação seja trágica, mais ela pede acção e recusa "o abandono".(O Príncepe,capitulos XXV XXVI).

Essa lição impõe-se de forma evidente à nossa época, na qual tudo parece comprometido. A determinação dos cidadãos profundamente ligados aos valores democráticos constitui um inestimável recurso que, pelo menos na Bélgica, ainda não revelou o seu potencial de mobilização e o poder de modificar o que é inelutável. 

Graças às redes sociais e à liberdade de expressão que estas facilitam, cada um pode agora se manifestar particularmente no seio dos serviços públicos, nas universidades, no mundo estudantil, na magistratura e nos tribunais para levar o bem comum e a justiça ao seio do debate público e ao seio da administração do Estado e dascomunidades. 

O neoliberalismo é um fascismo. Deve ser combatido e um humanismo total deve ser restabelecido."