Não apenas a corrupção económica ou enquanto ilícito criminal mas à corrupção em sentido amplo, total e até filosófico; tudo o que corrompe os valores éticos e jurídicos sociais/societais. Igualmente, referimo-nos à Justiça lato sensu, à do judicial/judiciário mas também à política (contributiva e distributiva) e social e bem assim, à "distribuição" igualitária da cidadania e da dignidade.
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sábado, 5 de maio de 2012
Mas que classe da mé(r)dia!
O Ardina
Como diria o Sr Costa do café dias depois, "a promoção do pingo doce não foi a pensar nos mais pobres, quem ganha o salário mínimo já o deve ainda o mês não começou e no fim do mês, mal recebe, fica de novo de mãos vazias e nem 50 euros tem para fazer as tais compras no valor mínimo de 100 euros!". É absolutamente verdade. Este deplorável golpe de arrogância + humilhação, de sobranceria + submissão foi proposto/dirigido apenas àquela que é historicamente a mais PROSTITUTA E COLABORACIONISTA das classes sociais, a "classe média", e esta, mais uma vez, colaborou. Não recuando muito mais na história, é a mesma classe média sensorialmente dominada pelo esófago que levou ao/tolerou o Governo de Vichy, é a do Chile de 73, é a da Espanha falangista e do golpe de Tejero Molina. Por cá e neste Portugalete, é a que se fez senhora nas colónias africanas, é a que confirmou Marcelo Caetano nas eleições de 69 e de novo nas de Outº de 73 mas que seis meses depois (a 26 de Abril de 74) sai à rua de cravo na mão para festejar a liberdade mas apostou no sindicalismo amarelo-moderado, é ainda a mesma que há quase 30 anos alterna entre o ultra-liberalismo cavaquista e o neo-liberalismo dos socialistas, elege o Cavaco e o cavaquismo, depõe o Cavaco, repõe Cavaco e cavaquismo nas mesmas ou noutras embalagens, conforme cada um destes dois grupos de merceeiros lhe vá mantendo a medíocre expectativa duma subidita do poder de compra para mais um ou dois sacos de mercearia em promoção (mesmo que no limiar dos prazos de validade), para mais uns farrapitos nos saldos pós-natalícios, ou aproveitar idênticas promoção para fazer uma viagem aos trópicos nas férias da Páscoa. Somos todos povo mas a "nossa" classe média nunca quis ser o Povo, nem antes, nem depois do 25 de Abril. A palavra Povo tem para a classe média um estigma milenar de pobreza que lhe não agrada, não satisfaz a sua ferida narcísica nem serve à sua narrativa pessoal e social e sem um quadro heráldico pós-moderno que atribua (de)graus e distinções, faz-se (ou aspira a ser) doutora e/ou a ter filhos doutores. Doutores professores, doutores escribas, doutores funcionários, doutores administrativos, doutores funcionários-bancários, mas doutores. Povo é que não!
Não se surpreenda por isso quem viu o que cá se passou nas tais promoções e como mais um (e apenas mais um qualquer) Ebenezer Scrooge contou com a colaboração desta "classe" sua colaboração para tentar aterrar sob detritos/esterco biológicos e não biológicos (cascas de cebola, folhas amarelecidas de couve, penca e alface, embalagens plásticas de óleo vegetal ou de detergente, etc.) o dia 1º de Maio. A classe média não faz registos nem valorações a este nível. Faria, quando muito, se a mesma promoção coincidisse com o aniversário de casamento, ou com a festinha de aniversário dos filhos em idade escolar, ou o aniversário da formatura dos filhinhos doutores e ainda assim não passaria disso mesmo, um mero aborrecimento formal, porque noutro qualquer dia, mesmo à semana, atestaria um qualquer artigo-quarto que lhe justificasse a falta ao trabalho. Perdão, ao emprego.
Há umas boas três décadas atrás Claude Lelouch realizou o filme Les uns et les outres e mostrava da II Guerra Mundial as ambiências, aspirações e sobrevivências à margem dos estritos cenários de Guerra, bem como o pós-guerra mais imediato. Mais musical que historiográfico ou sociológico, o filme não deixa de ter como tema central a II Grande-guerra e das múltiplas estórias paralelas que narra, destacaria para dela me servir como alegoria sobre a classe média a estória de uma francesa que manteve o (ou até subiu no) seu estatuto...dando-se muito bem com os ocupadores nazis. Na minha alegoria (e dele, Lelouch, estória), logo após a libertação, o Povo premiou com humilhação e ostracisação (até com alguma barbaridade, confesso) o espúrio e ultrajante colaboracionismo da dita compatriota francesa. Pena que na História o não tenha feito ainda e resoluta, cabal e definitivamente.
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